sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Palito de Fósforo

“Se, como é infelizmente o caso de nossa época, a moral evangélica parece evaporada, a condição de seu renascimento não residiria nesta redescoberta de suas raízes naturais? Será que não quisemos, até agora, fazer cristãos onde não se tinha ainda conseguido fazer homens? O resultado não é dos mais brilhantes: não temos mais nem homens nem cristãos”.
Paul Eugène Charbonneau


Temos todos a convicção de que a escolha dos governantes seja algo de grande importância. Os nomes dos nossos partidos não dizem muito e sua ideologia diz menos ainda. E a biografia dos candidatos são, de modo geral, de desanimar. Como proceder?Houve tempo em que os governantes tinham contato direto com o Criador, que lhes transmitia as regras a serem impostas aos súditos. Hamurabi e Moisés foram alguns que se valeram desse contato direto. Coisa muito mais fácil do que isso de democracia, que o Churchil disse ser a pior forma de governo, mas ainda não haviam encontrado outra melhor. Democracy is the worst form of government, except for all those other forms that have been tried from time to time. O rei Henrique VIII, porém, colocou em dúvida a certeza de que os soberanos tivessem sangue azul, ao mandar decapitar em público suas incômodas esposas. E olhe o sangue vermelho escorrendo quando a cabeça da executada foi separada do corpo.Muitos filósofos têm chamado a atenção para um fato preocupante, que não surgiu ontem. Enquanto na primeira metade do século passado os intelectuais discutiam a respeito da natureza de Deus, neste século a questão não está em acreditar ou em não acreditar. O que predomina é uma indiferença, é o “tanto faz quanto tanto fez”. Para Hans Küng isso tem muito a ver com a crise de valores que permeia o mundo todo, pois “não existe ação moral, humana, incondicionalmente obrigatória, nem uma ética também incondicionalmente obrigatória, sem religião”.
O argumento é discutível, pois pode levar ao entendimento inverso: basta haver religião para que esses tais valores sejam observados. Basta verificar que um Estado comprometido com a religião, como Israel, teve no Líbano uma conduta que muitos equiparam à “limpeza étnica” pretendida pelo nazismo. Aliás, o próprio padre Küng arrola as atrocidades cometidas em nome do cristianismo ao longo da História, muitas delas voltadas contra os judeus. Quando Albert Einstein declarou que não acreditava em um Deus pessoal, pois seu Deus era de outra espécie, a cosmic God, caiu o céu sobre sua cabeça, pois já morava nos Estados Unidos, onde até mesmo os ateus confessos são obrigados a jurar sobre a Bíblia, quando vão depor em Juízo, ou a ler nas notas de dólares que in God we trust. Coisas da democracia capitalista, certamente. “Todos têm o direito de acreditar naquilo em que eu acredito”, como deve ter dito o W. Bush aos muçulmanos.Um dos que lhe caiu de santo porrete na cabeça do Einstein foi o conceituado Cardeal Fulton Sheen, autor de livros como A Vida de Cristo, que fez pilhéria: “acho que o Deus dele tem um s a mais”. Os cardeais norte-americanos, aliás, são mestres em comicidade, como se viu quando acobertaram um número inimaginável de colegas pedófilos, pois puni-los acabaria levando a Igreja à bancarrota, tais as indenizações que as famílias exigiriam em Juízo. Não é para rir?
Eu poderia citar o padre jesuíta e teólogo Teilhard de Chardin e sua irrespondível afirmação de que a religião deve acompanhar as descobertas científicas e rever os conceitos que ela havia formulado quando tais descobertas ainda não haviam sido feitas. Só uma criança acreditaria que Deus fazia bonecos de barro, disse ele, curto e grosso. Prefiro, porém, ficar com o outro padre, também teólogo, e ainda vivo. Hans Küng passou por maus bocados quando, a exemplo do nosso Leonardo Boff, resolveu dizer que seus superiores hierárquicos demonstram, por sua conduta, acreditar pouco em Jesus Cristo e sua mensagem de paz e tolerância. Não posso acreditar, diz ele, que Jesus, que advertiu os fariseus por causa da carga insuportável que estavam a lançar sobre os ombros das pessoas, declarasse hoje ser pecado mortal a utilização de todos os meios anticoncepcionais artificiais. Nem imaginar que Ele, que convidava para sua mesa justamente os que haviam falhado, proibisse para sempre o acesso à Sua mesa a todos os divorciados que voltassem a casar.
Quer mais? O padre Küng tampouco consegue supor que Jesus, que constantemente se fazia acompanhar de mulheres, que cuidavam de sua manutenção, e cujos apóstolos, com exceção de Paulo, eram todos casados e assim permaneceram durante seu ministério, proibisse hoje aos homens ordenados o casamento e proibisse a todas as mulheres a ordenação. O homem não tem papas na língua, se me permitem o trocadilho.Na célebre pintura feita por Michelângelo Buonarrotti na Capela Sistina, por determinação de seu carrasco, o papa Júlio II, Deus veste um camisolão, tem barba e cabelos brancos e toca seu indicador no indicador do primeiro homem, feito de barro, como sabemos. Considerando que o papa era um tirano, que havia escravizado o artista até que este erigisse na praça São Pedro uma tumba faraônica que lembrasse para sempre o nome daquele Sumo Pontífice, torna-se claro que aquela figura antropomórfica contava com o apoio papal. Além de antropomórfica (isto é, Deus tem cabeça, tronco e membros, como se fosse humano), a figura de Deus ainda é, para muitos, antropopática, isto é, sente, pensa e age como se fosse humano.
Küng, homenageando nossa inteligência, nos adverte que, em realidade, é impossível falarmos de uma entidade tão superior, a não ser utilizando nossa linguagem humana. “Desse Deus e a esse Deus nós, certamente, só poderemos falar utilizando conceitos, imagens e idéias figuradas, códigos e símbolos.” É ele o Deus bíblico, “que pode ser percebido sob uma nova visão do mundo, segundo Copérnico, Galileu e Darwin”. Quem diria? Fico aqui a imaginar o que pensaria quem não conhece o jogo de tênis se visse, a certa alguma de uma partida, um dos jogadores segurar duas bolinhas amarelas e levantá-las, mostrando-as ao adversário. Que quer dizer isso? Que ele agora vai usar bolinhas? Mas eles vinham jogando com bolinhas até ali! Que vai usar agora bolinhas amarelas? Mas as bolinhas com que vinham jogando eram amarelas. Mistério! Subamos alguns degraus. Alberto Einstein ensinou-nos que E=Mc2. No mundo todo há certamente pessoas que sabem o que isso significa e a relevância disso para a ciência e para o mundo. Eu, no entanto, não tenho a menor idéia daquilo que está por trás dessa famosa fórmula. Você é capaz de me explicar o que se contém nela? Cartas para o autor.
Eu poderia subir alguns muitos degraus e tentar mostrar se acredito num Deus pessoal ou num Deus cósmico. Mas, e daí? “Tanto faz como tanto fez” dirá o leitor. “Não estou nem aí”, dirão outros. Note que essa frase é empregada por muitos também quando falamos em eleição de governantes. Pensar dói.A questão, como diz Küng, não está em discutir conceitos. Qualquer um de nós afirmaria o que ele afirmou em seu livro Por que ainda ser cristão hoje?, de que me vali para estas reflexões: “Não deixo absolutamente de reconhecer o fracasso histórico do cristianismo”. Nem por isso ele deixa de propor que continuemos a cristianizar a sociedade em que vivemos.
O desafio é: será possível salvar o nosso planeta sem fazermos da religião algo mais concreto, mais“terreno”, algo menos preocupado com conceitos e mais comprometido com ações tendentes a fazer imporem-se aqueles valores que nossa inteligência, limitada que seja, concorda serem atributos desse Criador de tudo? O também perseguido frei Leonardo Boff segue esse mesmo caminho, tanto que escreveu um livro chamado Ecologia - Grito da Terra, Grito dos Pobres. Será possível escolhermos governantes que pensem menos em si e mais no serviço que os aguarda, no respeito à dignidade humana, na luta contra todo tipo de opressão, num projeto de um Poder Judiciário minimamente eficiente, em programas que estimulem a solidariedade e a cidadania?Eu creio que sim. Se meu testemunho vale alguma coisa, eu posso dizer: por incrível que possa parecer, isso tudo já foi pior do que é hoje. Não é de hoje que político furta, nem é de hoje que muito juiz merece algema e xadrez. E se alguma coisa melhorou, é porque pessoas não ficaram reclamando na escuridão porque a lâmpada se apagou. Elas preferiram acender um palito de fósforo.

Dr. Duralexsedlex

Amanhã vai ser outro dia!

Bem-vindo, leitor: Tenho algo a lhe dizer, nesse post.

Confesso que não sou nenhum santo, nenhum exemplo a ser seguido.

Confesso que por muitas vezes iludi, outras omiti, e mais outras tantas, confundi.

Mas não posso mentir dessa vez: por isso tenho algo a lhe dizer.

De todas as meia-verdades universais, de todas as crenças sociais idiossincraticamente estabelecidas, de tudo que se repete à exaustão, simplesmente por ser assim que as coisas são, dessa vez é diferente.

Eu tenho algo pra lhe dizer, e já lhe aviso, você sabe o que é e nem imagina o que seja!

Veja bem, se muitas vezes eu enganei foi por que também fui enganado.

Quis ensinar sem saber que o que eu sabia não condizia com o que eu sabia que sabia, mas não queria saber.

Confesso que se enganei, não foi por mal. Mas não é exatamente disso que dizem do inferno?

Não estou lhe revelando a verdade nesse momento pensando em me purgar dos antigos pecados, ou mudar algo, nem em âmbito pessoal nem social.

Revelo cordialmente o que sei, simplesmente por que sei que esse é o único ato que eu ainda posso cometer, sem ser passivo de punição no futuro.

Explico: o que me move no momento não é certeza. É mais que isso.

É verdade.

Juro.


Líber

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Cadeira vazia.

“Jamais ame alguém! Jamais ame alguém!Ó inúteis seres de barro,as alegres grinaldas da esperança são feitas de flores efêmeras,coisas destinadas a esmaecer e morrere que florescem por apenas insignificantes horas.”



A escola ficava na Bigdoy Allé, rodeada das residências dos embaixadores estrangeiros, que talvez preferissem a calma de Bergen e seus fjords à agitação de Oslo e a invasão dos estrangeiros que tanto descaracterizavam o aspecto da capital. As crianças passavam todos os dias junto ao muro da casa grande, onde tremulava a bandeira colorida, que despertava a atenção daquele bando de gralhas, grossitando todas ao mesmo tempo. Stars and stripes forever, como se dizia além do oceano, lá onde Leif Ericson estivera muito antes de ali chegar Cristóbal Colón.Na classe não lhes haviam advertido que além daquele muro era território estrangeiro, pois não lhes ensinavam ainda essas coisas de direito internacional e outras bobagens que os adultos inventam para criar barreiras entre si. Sabiam apenas que as árvores em seu país não tinham dono, pois o allemannsretter (1) assegura a todos poder entrar no terreno alheio e colher o que a natureza ali plantasse. Res nullius, res omnium, diriam elas, se soubessem aquela língua estranha que jamais haviam ouvido alguém falar por ali. E da qual ninguém necessitava para ser feliz.Naquele dia, na classe, a colega morena exibira ao menino loiro um sorriso diferente daquele que costumava entregar aos outros colegas, sempre gentil e tímida. Era preciso retribuir-lhe a especial atenção. Mas como?Ali estava agora a oportunidade de mostrar sua valentia, andando sobre o muro alto da casa grande, à maneira de um nefelibata, palavra que ele jamais ouvira na vida. E jamais ouviria.Sob os olhos espantados das demais gralhas, o menino atravessou a rua, veio correndo e conseguiu, com salto felino, alcançar o cimo do muro pretendido. Com algum esforço pôs-se de pé lá em cima, abriu os braços em cruz e digeriu gostosamente o aplauso dos colegas. E, mais do que aplauso, o sorriso especial da menina morena.E o sorriso foi o estimulante que o fez caminhar, lentamente, o estreito caminho que escolhera para mostrar à menina que era, de todos aqueles machos, a gralha que a natureza havia reservado para ela. Que ainda não havia visto toda sua valentia, pois tinha ainda de alcançar o cetro comprobatório de seu triunfo. Saltar do muro para dentro do terreno, colher frutas silvestres e, supino esfoço!, com o troféu na mão, galgar de novo o muro, trazendo à rainha o butim de sua pilhagem, viking romântico.A vida, porém, é feita de surpresas, aprendeu ele, ao perder o equilíbrio e cair do lado de lá do muro, despertando um oh! dos colegas e um ar de preocupação no rosto da menina morena.Do outro lado do muro, o receio dos adultos diante de questiúnculas que vinham ocorrendo além, muito além daquelas terras geladas e que poderiam vir a molestá-los algum próximo dia, fê-los cercarem-se de cuidados desdobrados. E aquilo que se mostrava bosque era, na verdade, um campo minado, preparado para o pior.O fato é que as gralhas não souberam explicar aos policiais chamados, falando todas ao mesmo tempo, se o grito veio antes ou depois da explosão. O menino loiro, única pessoa autorizada pelas circunstâncias a esclarecê-lo, jamais poderá fazê-lo. E isso era o que importava.E a menina morena ficou sem as frutas silvestres, substituídas por uma dor profunda que lhe agulha o peito sempre que vê, na classe, aquela cadeira vazia.

Dr. Duralexsedlex

Narizinho Norueguês

Como pude verificar mais tarde, o sanduíche é uma instituição nacional. No ônibus, no bonde, no metrô, no barco, na rua, na ante-sala dos cinemas, no páteo da universidade, nos jardins é comum eles abrirem sua skulder veske (uma bolsa que carregam nas costas, outra instituição nacional, que os transforma numa espécie de marsupiais, e que, além do lado prático, talvez explique a inexistência de senhoras nem senhores corcundas, já que a espinha, na infância e na juventude, vai-se cristalizando em linha reta) e dali retirarem as coisas mais inimagináveis, em especial um embrulho contendo o matpakke, um sanduíche que pode ter os mais variados recheios, em especial o delicioso camarão local cozido.Os restaurantes, claro, fazem concessão ao turista e lhes exibem as refeições completas a qualquer hora do dia. Em especial as universais pizzas, que os jovens compram por fatia e saem comendo pela rua, sem a menor preocupação.Nos restaurantes quase não se come carne vermelha, cujos preços são proibitivos. Além da carne de alce, há carne bovina, importada adivinha de que país? O café vem da Colômbia, a banana vem da África mas a carne bovina vem do Brasil. Em compensação, há mil tipos de pão, nenhum deles o pão fresco, que tanto me empanturra o estômago e foi proibido por meu médico. Ponto para eles.E há os doces. E os queijos, que, certamente, serão minha perdição(pois disso tenho certeza, literalmente padecerei, aos que me conhecem sabem o que estou dizendo). Adeus regime!Finda a refeição, servem-me um café. Em lugar do corto, como se bebe na Itália, eles o tomam em uma caneca que mais seria apropriada a uma chocolatada quente. E a economia de pó é visível até na cor da bebida, cujo sabor lembra, remotamente, um chá de rubiácea.No parque, lá estavam algumas vovozinhas saboreando seu matpakke. O que, mais que depressa, fiz registrar ad perpetuam rei memoriam, tanto quanto as mais de duzentas esculturas do meu colega Vigeland.Paga a conta, circulamos pelo belo parque, onde o famoso foetus não poderia deixar de ser registrado. Não conheço outro artista que tivesse tido a idéia de registrar esse momento de nossa vida. Depois de uma boa caminhada, seguimos para o hotel, onde as pessoas sempre me recebem com um sorriso que me faz sentir um marajá. Estão todos certos de minha generosidade na hora da gorjeta, por certo. Ele mais uma vez me corrige: Essa cordialidade você vai encontrar em todo lugar aqui, mesmo por parte de pessoas desconhecidas. Mais tarde conferi que, nos ônibus, o motorista não tem a menor dúvida em abrir um mapa para indicar a um passageiro onde fica o lugar procurado, por onde não passa aquele veículo, que o passageiro havia tomado por engano.A belíssima atendente do hotel me pergunta se quero aproveitar o sol da tarde para um banho na piscina. Aquecida e coberta?, indago ingenuamente. A moça positivamente jamais ouvira tal pergunta. E meu guia me informa que, com tal temperatura (eu estava vestindo casaco) é comum os noruegueses nadarem no mar. Aquele sol de fim de verão é coisa rara por aqui e é preciso aproveitá-lo. Rejeito delicadamente o convite, despeço-me de meu guia e sigo para o quarto, para um merecido repouso, que os dias próximos serão de muito trabalho, pois tenho de estudar a programação do congresso.Antes de fechar a porta, porém, acho adequado fazer-lhe uns esclarecimentos. Não pretendo ser um desses turistas deslumbrados, como há muitos. Os melhores restaurantes, os hotéis mais confortáveis, os recantos mais visitáveis. Tudo isso também me atrai, é claro. Gosto de conhecer locais bonitos, de comer calmamente e, se possível em boa companhia, uma boa refeição, tomando uma boa bebida, e também prefiro hospedar-me num hotel de qualidade, em lugar de ficar numa espelunca. Ser turista não quer dizer ser perdulário, mas também não pode significar viver miseravelmente, assim penso eu. A sempre oportuna virtus in medio cai bem nesse momento. Got it?Entretanto, minhas observações sobre a Noruega não serão, certamente, as de um simples turista. Espero que sejam mais amplas, com um toque pessoal que eu não poderei evitar. Talvez até vire um livro. Ou vários, diz ele. Veremos.À medida que for me aclimatando no país, começarei a fazer alguns amigos noruegueses, a quem, certamente farei observações que lhes causarão espanto. Sobre o narizinho das moças, por exemplo. Já viram nariz mais bonito do que o das norueguesas? indagarei. Não, eles nunca repararam nisso. Convivendo com elas no dia-a-dia, eles certamente não percebem a graça daquele nariz arrebitado, porque, ilhados em seu país, não têm parâmetro para comparar. Sugerir-lhes-ei, então, que visitem o museu Kon Tiki e comparem o nariz delas com aquele das estátuas de pedra que lá estão, trazidas da Ilha de Páscoa pelo extraordinário navegador Thor Heyerdahl. E se darão conta da beleza das moças nativas. Aliás, Kon Tiki era o nome de uma balsa construída como uma cópia de um barco pré-histórico. Feita com nove troncos de madeira leve e uma tripulação de apenas seis pessoas, partiu em 28 de abril de 1947 de Callao, no Peru, chegando à Polinésia depois de 100 dias. Tudo está devidamente documentado e exibido naquele museu.E assim ficou a idéia de que um estrangeiro poderia registrar sua opinião sobre pessoas, coisas e costumes locais, enquanto aguardo o tal congresso de escritores.Não me move o propósito de fazer um simples registro, digo-lhe desde já. Como dizia o Fernando Pessoa, por um de seus heterônomos, o poeta (e todo artista) é um fingidor, que finge tão completamente que até finge que é amor o amor que deveras sente. Ou seja, o leitor, o apreciador de qualquer obra de arte, não saberá jamais onde está a reprodução da realidade e onde está a contribuição pessoal do artista.Atrevo-me a dizer que todo artista é um inconformado com a obra do Criador. O que Deus fez foi muito pouco. É preciso acrescentar algo a ela. Pendurar um quadro numa parede de uma casa ou plantar uma escultura numa praça pública não é isso? Com o escritor acontece o mesmo. Até onde o historiador é alguém neutro nas descrições que faz? Um ponto de vista é sempre uma visão a partir de um ponto. E esse ponto é o olhar de quem vê. Ao escrever, utilizo-me da realidade, acrescentando-lhe, porém, algo que me parece cabível. Ou crio eu mesmo essa realidade, que, pelo fato de existir apenas na imaginação do autor, não deixa de ser realidade.Ou você acreditou que alguém iria me convidar para um congresso de escritores?

Dr. duralexsedlex

Morreu.

Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; depois vem e segue-me."
Mat 19,21




Andou só por andar, como se fosse autômato; num banco de jardim, permaneceu estático. Pensar, já não pensava. O pensamento, errático, voava, além de si, como de um ser sonâmbulo, que traz atrás de si como visões oníricas. Chorou gotas de dor tendo um sabor insípido; co’a manga da camisa recolheu as lágrimas; sentiu dentro de si um mal-estar famélico; a cara transmudou-se num rostinho angélico e foi pro barracão, pra tapear as vísceras. Sonhou matar a fome, então, nuns seios túrgidos. No catre remendado ele se achou um príncipe:por manto de arminho ele vestiu a túnica, que fora do seu pai, quando servira o exército, morrera e lhe deixara como herança única. Buzinas na avenida ressoaram lúgubres:do sonho não voltou porque morrera eufórico;no rosto inda se via um como riso cínico,no gesto inda se via uma postura cívica.Viveu só por viver, como se fosse autômato. Sonhou sonhos de cor, tendo visões angélicas; no catre remendado o pensamento errático voava além si, pra tapear as vísceras. Pensar já não pensava, pois morrera eufórico.Morreu como viveu: permaneceu estático.Num banco de jardim ele se achara um príncipe.Passara pela vida como fosse sândalo:aos golpes da miséria sucumbira impávido Morreu só por morrer: como se fosse errático.

Dr. Duralexsedlex

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Herói Adormecido

"Sei que meu trabalho é apenas uma gota d'água num oceano, mas sem ele o oceano seria menor." Madre Teresa de Calcutá


Joseph Campbell brindou-nos com notável reflexão a respeito da saga do herói, esse repositório de virtudes que, ao longo da História, preenche narrativas que passam de geração a geração. A figura arquetípica de que fala Jung. Aquele modelo de ser humano que, superando as limitações humanas, dá à sua (e à nossa) existência um sentido cuja dimensão nem sempre percebemos. Para Campbell, o tecnicismo da sociedade contemporânea conduz as pessoas ao tédio e à alienação, incapazes de assumir o herói que cada um traz dentro de si, envolto por um ambiente de competição que a todos nos massacra. O heroísmo, assim, passa a ser entendido como o esforço para a vivência da vida em sua plenitude, como assunção de sua história pessoal exclusiva e única, vivida com intensidade. Quem se habilita?
Deixando de lado o aspecto religioso (não por ser menor, mas por suscitar discussões que aqui não cabem), será fácil invocar as figuras heróicas de Moisés, de Jesus, de Maomé ou do Buda, vendo-se neles apenas suas qualidades, como é próprio de todo herói autêntico. Heróis que não chegaram aonde chegaram graças a poderes especiais, mas em razão de um caminho extremamente espinhoso. Per aspera ad astra, como se dizia outrora. E é justamente o inatingível desses personagens (cuja historicidade também não importa, pois eles sempre serão maiores do que a História) que nos afasta, não poucas vezes, da chamada religião, pois as figuras desses heróis passam a se tornar como que propriedade de grupos humanos que, no limite, cometem atrocidades em nome de quem representaria a elevação máxima do ser humano. Despreza-se o fato mais importante, que é o substrato do herói, que o torna superior a qualquer nome que se lhe dê. A profundidade da mensagem mitológica passa então a ser substituída por narrativas pretensamente históricas. Meros contos de fadas, até porque, como nos ensina Jung, quando dizemos "Deus", estamos apenas enunciando uma palavra, não um conceito. O máximo a que conseguimos chegar é à imagem de uma figura antropomorfa. Como dizia o filósofo grego, se os cavalos soubessem pintar, pintariam Deus com cabeça de cavalo. Os hinduístas que o digam.
O que nos encanta nas narrativas dos feitos desses heróis é, de certa forma, uma projeção especular, se me permitem o pernosticismo: vemos o herói como quem se vê num espelho. Sua saga é, no geral, um morrer e um renascer dentro da mesma vida, a nos convidar a superar as dificuldades que nossas limitações humanas nos impõem diuturnamente. A vida, rigorosamente, alimenta-se da vida, o que o sacramento da eucaristia ilustra perfeitamente.
O cinema, é ainda Campbell quem faz o reparo, trabalha desde sempre com essas figuras arquetípicas. A quantas pessoas ocorrerá que o vilão de Guerra nas Estrelas chama-se Darth Vader (corruptela de Dark Father), para expressar o anti-herói, o Pai Sombrio que o filho Skywalker (textualmente, "caminhante do céu") tenta resgatar na hora da morte (do pai)? A força interior do filho naquela narrativa mitológica não lhe é dada de graça, sendo, antes, fruto de longo caminho de aprendizado e superação de obstáculos, muitos dos quais ligados à sua condição de ser humano, até convencer-se de que "eu tenho a força", como poderia ser "eu tenho a fé". Os jesuítas não fazem exercícios espirituais?
Quando o nome do filme Shane, de George Stevens, foi traduzido para o português como Os Brutos também amam, tudo o que podemos concluir é que o tradutor não tinha o mais remoto conhecimento de psicologia nem de mitologia. A figura do homem sem passado nem futuro, que assume, com desassombro, o papel de justiceiro, de enviado dos deuses, não diz com um homem real, mas com aquele herói que todos temos dentro de nós e que, por motivos os mais variados, nem sempre vem à tona. Não nos esquecendo de que o filme narra a história tal como é vista por um garoto, não sendo demasia concluir que o heroísmo de Shane seria mera projeção do heroísmo que o garoto esperava do pai, essa figura mítica de que todos necessitamos para desenvolvermos uma personalidade tão sadia quanto possível.
Infelizmente, os resumos dos jornais e das revistas mostram-se, no geral, incapazes de apreender a grande mensagem trazida por muitos filmes, como esse maravilhoso O Último Samurai, em que o próprio título é propositadamente ambíguo. Quem é o capitão Nathan Algren? É um ser humano chegado à mais insuportável degradação, que se prostitui para sobreviver e se embriaga para suportar uma vida insuportável. Algo que Aurélio Agostinho conheceu muito bem.
Como todo herói mítico, o capitão Nathan tem sua Estrada de Damasco, onde as Parcas lhe poupam a vida, para dar-lhe a oportunidade de dar a ela um sentido condizente com sua condição de herói, tanto quanto Aurélio Agostinho, que veio a tornar-se bispo de Hipona e doutor da Igreja católica.
Quem poderá deixar de lembrar-se também do inesquecível Augusto Matraga, de nosso Guimarães Rosa?
Não estivéssemos diante de figuras arquetípicas e até se poderia pensar num plágio. Matraga, como Nathan, cometera toda sorte de atrocidades em sua vida pretérita de cangaceiro. Emboscado pelo destino, é jogado em uma ribanceira, dado como morto pelos desafetos. Ressuscita e dá à sua vida um sentido heróico, com o declarado propósito de entrar no céu, nem que tenha de arrombar suas portas a coice. "Cada um tem a sua hora, e há de chegar a minha vez!". E ela chega pelas mãos de Joãozinho Bem-Bem, vivido magistralmente no cinema por Jofre Soares.
Tanto Augusto Matraga como Nathan Algren (e como, certamente, qualquer um de nós) têm sua hora e vez (quantos comentadores, desatentos das sutilezas do grande escritor, colocam entre esses dois substantivos um inexistente a), aquele momento de conversão íntima, a partir da qual a vida passa a ter o seu real sentido.
Em suma: todos nós teremos sempre uma hora e vez, aquela oportunidade de nosso herói adormecido despertar e dizer a que veio.

Dr. Duralexsedlex

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Idiotices



"Pensar incomoda, como andar à chuva quando o vento cresce parece que chove mais."
Alberto Caeiro(pela mão de Fernando Pessoa)



Graças às leituras feitas na mocidade, acabei enveredando pelo campo da ética, dos direitos fundamentais do ser humano e pelo socialismo. Qual socialismo? Qualquer deles seria melhor do que uma ideologia que propõe o individualismo mais irresponsável, o louco empenho para a conquista do primeiro milhão e, acima de tudo, a procura do lucro ilimitável, nem que seja estimulando candidatos notoriamente corruptos a conquistarem o governo de seus países e, depois, pagarem aos "estimuladores" a conta, nem que seja à custa do bem estar de seu povo. Isso, naquele tempo, se chamava imperialismo. Se você tem perdido seu tempo lendo o balanço dos bancos que operam no Brasil e é vítima do lamentável serviço prestado pelos bancos em nosso país terá uma pálida idéia daquilo a que me estou a referir. Tudo isso era a negação do que os franceses haviam sintetizado no liberté, egalité et fraternité.
O tempo foi passando e descobri que liberdade, como tudo mais, era apenas um mero conceito. Cheguei a colocar num livrinho esta historieta: King Kong é capturado na África e trazido numa gaiola à América. Ele tem um olhar triste, pelos limites que lhe impõem as grades da gaiola. Certo dia, o tratador se distrai e o gorila foge da gaiola. Ele conquistou a liberdade? Sim e não. É que a gaiola está dentro de um quarto, que tem as portas trancadas e as janelas gradeadas. Agarrado às grades da janela, ele lança um olhar triste lá para fora do quarto onde se encontra preso, sonhando com a liberdade e os familiares que deixou na África.
Seu tratador, que não se emendou, um dia deixa a porta do quarto aberta e o gorila foge dali. Ele conquistou a liberdade? Sim e não. É que a casa, onde está o tal quarto e que tem outros cômodos, está com todas as portas trancadas e todas as janelas gradeadas. Agarrado às grades de uma dessas janelas, ele lança um olhar triste lá para fora da casa onde se encontra preso, sonhando com a liberdade e tudo mais que ela representa.
Seu tratador, que, positivamente, está querendo ser despedido por justa causa, um dia deixa a porta da casa aberta e o gorila foge dali. Ele conquistou a liberdade? Sim e não. É que tal casa fica numa ilha, não havendo ponte que a ligue ao continente nem o continente americano à África. Prossiga você agora a história e verá que sempre haverá um limite a ser transposto, até porque nós não sabemos o que um gorila pensa quando vê as estrelas no céu noturno. E você, que pensa?
Tive oportunidade de conhecer uma tentativa de igualdade visitando Cuba. Ali não vi crianças sem uniforme escolar, nem jovens vendendo quinquilharias junto aos semáforos, seja noite seja dia. Não vi velhos caídos na calçada nem pedindo esmolas. Não vi famílias morando na rua nem em "cidades de lata", como em alguns países são eufemicamente chamadas as nossas sempre crescentes favelas, que alguns de nossos compositores populares, irresponsavelmente, pintaram com cores fantasiosas. Cada casa dessas é, na verdade, um "barracão de zinco, tradição de meu país; barracão de zinco, pobre e tão infeliz", como disseram Luis Antonio de Pádua Vieira da Costa e Oldemar Magalhães, há tantos lustros, em samba com direito a ser cantado pela Eliseth Cardoso, ao som do Jacob do Bandolim, que, além de ter sido o maior bandolinista que o Brasil já produziu, ainda se dava o luxo de ser serventuário da Justiça no Rio de Janeiro nas horas vagas.
Em Cuba, por motivos vários, aquela igualdade ficou apenas no primeiro patamar, ao contrário do que ocorreu na Noruega, onde, graças ao petróleo do Mar do Norte, temos um socialismo alguns degraus acima. Em ambas aquelas sociedades, porém, o mesmo preço: uma juventude sem estímulo algum para um crescimento integral das personalidades que as compõem. Ser igual é, segundo se aprende naqueles países, algo profundamente desestimulante. Quem trabalha tem o que comer e onde morar; quem não trabalha também. Tal como numa comunidade religiosa, sintetizou-me um padre brasileiro que residiu em Cuba por muitos anos.
Quanto à fraternidade, nem os filhos de mesmos pais costumam acreditar nela. Não trago o testemunho cínico do Mário Monicelli e seu Parente é Serpente, mas a própria Bíblia. Claro que eu não teria o mau gosto de citar a dupla Caim e Abel, mas seus vizinhos Isaú e Jacó, nome de dupla de violeiros. Se não conhece essa fraternidade, pergunte ao Google que ele lhe mostra. Isso se não preferir a ironia de mestre Machado de Assis.
Sobre o socialismo e as decepções que despejou, como água gelada, sobre tantos idealistas, eu poderia indicar o livro do trio Mendoza/Llosa/Montaner e seu Manual do Perfeito Idiota Latino Americano, no qual eles falam exatamente da demagogia que parece inseparável dos políticos latino-americanos. Aliás, eles, que parecem escalação de seleção uruguaia de futebol, vêm agora com a carga toda no recente A Volta do Idiota, no qual não poupam nossa gente.
Não quero, entretanto, falar dos políticos brasileiros, mas de gente como eu e você, que criamos e alimentamos esses demagogos, que de idiotas não têm nada, até porque os idiotas, no caso, somos nós.
Um dos pontos focados por aqueles três autores, de currículos tão diversos e conclusões tão semelhantes, diz respeito ao vício do latino-americano de contar com o Estado como o Grande Benfeitor, algo muito próximo do que ocorre na religião, onde tudo está nas mãos de Deus. Os profissionais do Direito que vêm tentando resolver conflitos de interesses na base da conciliação e da arbitragem sabem do que falo. Se uma decisão não tiver o selo sagrado do Judiciário, ela vale, para a maioria dos brasileiros, menos do que um traque. Veja-se o barulho que se fez quando o nosso legislador pretendeu retirar dos trâmites judiciais os procedimentos relativos ao inventário de bens se o de cujus deixou apenas herdeiros capazes, sem os famigerados decujinhos da velha piada. E o divórcio a vínculo conjugal, quando a ser realizado consensualmente, precisa de intervenção de juiz por quê? Rigorosamente, deveria haver juiz e promotor antes da celebração do casamento, para advertir os nubentes do risco que estão a correr. Isso para não falar na frustração do ministro Hélio Beltrão e sua tentativa de desburocratizar o Serviço Público brasileiro. A propósito: você aceita um recibo de quitação sem que a firma do signatário esteja reconhecida por um cartorário?
Não é, porém, sobre nada disso que desejo falar, nesta dança de louco bêbado, mas de um outro tema, que tudo tem a ver com o acima dito.
Sabem os que conhecem a cidade de Sorocaba que o bairro do Mangal é famoso por seus apartamentos suntuosos, mesmo porque, segundo se diz, o metro quadrado naquele bairro seria o mais caro do Estado. Fácil, pois, imaginar o nível social das pessoas que ali moram. Há no bairro uma praça, onde babás, com suas impecáveis roupas brancas, levam aquelas belas e saudáveis crianças que ali residem, muitas delas de tenra idade, para distraírem-se e ali brincar todas as manhãs. Pois bem: tal pracinha está tomada pelo mato, e as plantas que ali um dia foram plantadas, talvez pela Prefeitura, não são visitadas por jardineiro há muito tempo. O aspecto geral daquilo é de abandono. Qual a explicação para isso? Simples: a Prefeitura Municipal esqueceu-se do bairro. Certamente os moradores do tal rico bairro estão inconformados com isso. Mas aí entram as reflexões do trio de autores acima referidos: quanto os proprietários dos riquíssimos apartamentos que ali se encontram gastariam por mês para criar e manter uma Associação dos Amigos do Mangal e, assim, proporcionar a seus próprios filhos um ambiente mais decente para tais crianças passarem as manhãs, enquanto os pais se ocupam em aumentar o seu já enorme patrimônio individual? Menos da metade do que gastam numa refeição ligeira feita num dos restaurantes do bairro.
Isso me lembra a ocasião em que fui convidado para dar uma palestra em outro Estado sobre algum tema que se incluía em meu limitado repertório. Uma comitiva foi buscar-me em Sorocaba e, ao levar-me para o local da tal palestra, seus membros fizeram questão de passar pelo bairro mais elegante da cidade. Ao iniciar a palestra, após os agradecimentos do costume, registrei que ainda não conhecia aquela cidade, mas levaria comigo uma certeza. Havia-me sido mostrado o bairro mais rico da cidade e eu tinha notado que, de fato, apresentava ele belíssimos sobrados construídos em ambos os lados de elegantíssima avenida. Ao longo do centro desta havia um pequeno córrego, no qual os moradores dos tais riquíssimos sobrados despejavam o esgoto de suas casas. Isso me dava uma certeza, disse-lhes eu: os moradores desta cidade são apreciadores do cheiro de merda. Se não fossem, teriam providenciado, às suas custas, a canalização daquele fétido córrego.
Quando terminei a palestra, obviamente não apareceu ninguém para levar-me a Sorocaba. Se eu não tivesse alguns trocados no bolso para o táxi ...

Despeço-me, pois como sempre digo, o tempo ruge.. e por mais que o tempo possa parecer a passagem das horas, vão parecer curtos se pensar que nunca mais há de vê-los passar.

Até Breve.

Dr. Duralexsedlex

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Ciente e de acordo.

Ilustríssimos Autores,

Venho por meio desta, solicitar que sejam acolhidas minhas mais sinceras desculpas pela demora em efetuar meu post, haja vista que embora concorde com o Egrégio membro, s.mj., necessito de tempo para que possa realizar minha obra.

Por epílogo, expresso novamente minhas sinceras desculpas e deixo a certeza de que postarei sempre que tiver condições de realizar o mesmo.


Att.

Dr. Duralexsedlex

O Rio

“A verdade é que apenas Deus pode conhecer Deus.”



As religiões orientais geralmente não se atrevem a definir Deus, ao contrário do que ocorre com os ocidentais, menos cerimoniosos, menos humildes, mais atrevidos e mais racionais. Falar d’Ele diretamente nem pensar, tudo são imagens, parábolas e coisas assim, como o caso de alguém que perguntasse ao sábio que é a Lua? e tudo o que o sábio fizesse fosse estender seu dedo indicador dele sábio ali diante dos nossos olhos curiosos, que lhe vêem os pelos do sobredito dedo, seu tarso mais o metatarso, a unha e sua eventual sujidade, coberta ou não por providencial esmalte sangüíneo ou de cor outra mais atrevida, mas a Lua mesmo, nada! Que é da Lua, mestre? E o dedo continua a apontar e o sábio diz: vai e vê. E quando nós olhamos adiante do dedo que nos indica o caminho, lá está uma foice sem cabo que se vai esvaindo até ficar o nada lunar no céu de nossa indagação ignorante. Que é da Lua, mestre? Vai e vê. Mas se não vejo nada? Aguarde pacientemente, que ela lhe ressuscitará.
Primeira idéia: crer é ver a Lua que não está lá.
E olha eu agora mirando o rio ali defronte, riacho heraclitano que se atravessa a vau e onde o sol despeja aqueles ouros lá dele e nós sem saber qual a cor do rio nem o sabor do rio a não ser atravessando, com as águas batendo-nos nas magras canelas, meio e modo de conhecer Deus. Quer conhecer Deus? diz-nos o sábio, banhe-se nele. E agora que vadeaste de cá para lá, certamente pensas que conheces o rio. Conheces nada!, que as águas então vadeadas não mais estão ali, senão lá mais embaixo, cem ou duzentos metros, talvez quilômetro, sendo atravessada agora por outras pernas, talvez de nossos netos, que também pensarão que já experimentaram suficientemente Deus, tanto quanto nossos tios e avós que cruzaram o sempre rio lá perto do seu nascedouro tempo faz.
E se vadeares de lá para cá descobrirás que tuas canelas, já enriquecidas e satisfeitas da experiência anterior do rio, talvez não se abram à nova experiência que é experimentar esse novo rio, pois as águas agora são outras, não vê que aquelas antigas já lá estão longe? Sem falar que o rio não são só águas, senão que peixes muitos, dúzias e dúzias, e mais aquelas pedrinhas, mais de centena, talvez milhar, que o passar do rio, no rio e através do rio e a decorrente experiência que elas assim façam vai delas aparando as arestas do egoísmo e da irritação, da indiferença e da impaciência, e lá vão elas se casando umas com as outras, roliças de virtudes e paciência, respeitando o modo de ser uma das outras, na convivência que se supõe decorrer da harmonia grávida de virtudes.
E se pensares que a experiência humana do rio se faz apenas com as canelas, pobre de ti! Repara na apalpação das pedrinhas que teus pés fazem quando vais e quando vens. Sentes cada pedra? Sabes o tamanho de cada uma? Sua cor? Sua forma? Sabes nada! Saberás acaso quais as pedras que pisaste quando foste e quais as que estás a pisar agora que retornas na nova experiência do rio? Certamente não. E não é só com a sola dos pés e as canelas anuecidas que se experimenta o rio, senão que também com a bunda, atente para isso. Quem te garante que teus pés não escorregarão nessas idas e vindas e quando vês estás lá estatelado no meio daquele corguinho que é o rio mas não é todo o rio? E tuas nádegas lanhadas te ensinarão coisas do rio que nem o frescor da água na canela, nem o confundir-se ele com a cor da poeira dourada que o sol lhe derrama, nem o cheiro bom da água não lhe haviam ainda proporcionado a você.
E aquilo ali é rio mas não é todo o rio. É rio porque ali há água, mas não há toda a água; há peixes, mas não há todos os peixes; há pedregulhos, mas não são todos os possíveis pedregulhos que ali estão naquele trecho que tuas canelas e teu corpo todo experimentaram na vadeagem e na revadeagem, nas idas e vindas a vau que é tua pálida experiência do rio.
E como juntar todos os peixes, e toda a água, e todos os pedregulhos para que saibas como é efetivamente o rio? Como ver ao mesmo tempo o nascimento do rio, seu caminhar por leitos planos e pedregosos, ora calmos ora cascateiros, límpidas aqui sujas ali suas águas, sua espuma e sua planície, e o seu findar, quando se finda? Quanto mais subas ao espaço para buscar essa visão de pássaro, mais longe estarás do rio e tudo o que verás será sempre um pálida imagem do rio em sua inteireza. Uma fotografia, sem vida nem cheiro, quase uma caricatura. E haverá quem diga que aquilo é um rio! Que inocência!
Pensa em tuas pernas jovens e fortes a pisar firme o chão daquele solo líquido que tua experiência agora perfura, tal como já fizeste um dia outrora. Será o pisar de hoje tão forte como o foi o de ontem? Será a correnteza de hoje menos calma do que era a de ontem? E como ficarás quando o titubeio da incerteza te atrasar os passos, por não teres reparado que as pernas já não são as mesmas, e, de fato, não no são, nem as águas já não são as mesmas, como de fato também não são? És o mesmo mas não és mais o mesmo; mesmas são as águas mas as mesmas águas já não são as mesmas; repete-se a mesma experiência que já não é a mesma experiência. Tudo tão velho e conhecido, mas, também, tão novo e desconhecido ainda.
Segunda idéia: a experiência de Deus é a travessia diária, sem saber se o atrevimento do afoito ou a fragilidade das pernas não fará daquela a derradeira travessia, a travessia que não se completará. E tropeçarás, como todos um dia tropeçamos; e cairás e serás envolvido pelas águas; e talvez te levantes e retomes a caminhada, para concluir mais esta travessia.Ou talvez não seja mais o caso de te levantares. E como os peixes e os pedregulhos, te confundirás com as águas, que te levarão e farão do destino delas o teu destino.
E o rio que agora caminha é apenas rio, embora nele estejam os peixes, os pedregulhos e estejas também ali tu, tudo indistinto. E o rio chegará ao seu fim que não será propriamente um fim, mas um despejar-se num rio muito maior, oceânico e eterno.
E agora que chegamos, onde estão os peixes? Quais as pedras que se acamaram? Que é feito do rio? Onde estás tu?

Despecho-me, pois o tempo ruge..

Até Breve.

Ps.: Analogia à la circus.

Dr. Duralexsedlex

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

A Abstinencia não é falta!

Ah! num grito leve, curto e alto quando me deparei com essa falta! Falta de informção? de Tempo? de Abstinencia?

Nãoooooooooooo!!! um grito mais pesado surgiu neste momento! logo em seguida ao Ah! Juro que não é facil se depara com uma coisa que você tem certeza que nunca lhe fará falta, mesmo por um pequeno espaço de tempo, até porque não é a falta dele que o impede!

Bate-se a porta a parede, acredite, mesmo não tendo raiva o impulso surgiu, o não, não foi capaz de ater o que era naquele momento. O pior é imaginar a situação passada num futuro com prazo ainda maior, como se fosse ficar sem o ar pra respirar, mais ai eu pergunto: Mas como? isso era inexistente a algum tempo atras e viviamos muito bem! acho que até melhor sem ela.

De qualquer forma me alivia a sua volta, o que me faz neste momento lhe escrever coisas sem sentidos e a respeito, se abstinencia não é falta, O que mais pode ser?

Viva a nova era e a volta da minha internet!

sem mais,

Osteowaldomirlanes!

Carta aos autores...

Venho por meio desta, já que não vejo outra, reivindicar à vossas senhorias o comparecimento e comprometimento com esse blog, que por ser tão novo não compreende o abandono sistemático de seus autores, graças a infame falta de tempo...

Não é minha intenção cobrar dos senhores nada que não seja de direito desse blog, e mesmo que eu quisesse, não o faria.

Encontro oportunidade então, não para cobranças, mas para uma pequena dissertação acerca das bases filosóficas que me impulsionam a postar, o que como vocês verão, independe de quem irá ler, ou em que lugar se pretende chegar por meio desse blog.

Como é do conhecimento dos senhores, nunca foi minha intenção possuir um blog. Não acho minha vida tão agitada a ponto de merecer um espaço público para distender comentários e mais comentários acerca de meu cotidiano. Também não necessitaria, se essa fosse a minha vontade, de um espaço para publicar idiossincrasias ou pontos de vista filosóficos, pois nessa área sou consumidor de idéias, não vendedor. Na internet se encontraria sem esforço algum conteúdo com muito mais profundidade que o por mim produzido.

Então, oras, qual é a deste blog? Onde eu encontro razão para postar, quando tudo indica ser isso supérfluo e narcisista?

Vejam bem, se vocês repararem não verão nenhuma semelhança nos meus posts, talvez excluindo-se a maneira de escrever. São temas diversos, sem nenhum compromisso ou pretenção de formar um público. São coisas de momento e nada mais. Pragmatismo é a sua única inter-relação.

Vejam bem, uma vez que, como eu disse, não tenho um porquê para postar, me sobra apenas postar, por postar. Cada co-autor desse blog tem, consonantemente, total liberdade para postar o que lhe der na telha e, somando-se a isso o nome do blog, que não pré-classifica temas a serem abordados, temos um blog absolutamente sem identidade, mas por isso mesmo cheio até a borda de espírito.

Em nenhum momento um autor evitará postar por se sentir esvaziado de um conteúdo específico, por que o conteúdo do post será de sua escolha, e conseqüentemente será postado somente o que ele quiser postar no momento que ele quiser postar. E em nenhum momento um eventual leitor sentirá que o post que ele está lendo foi feito de alguma outra maneira senão pela vontade de postar. Esse na minha opinião é o melhor post que pode existir, independente de que tema ele trata, pois qualquer tema é subjetivo.

Talvez vocês estejam a rir no momento, já que o que eu faço nesse post é justamente pedir que vossas senhorias postem com freqüência. Se por acaso estou soando por demais inconstante, refaço a pergunta que eu fiz alguns parágrafos acima à mim mesmo, dessa vez para os meus companheiros: 'Então, oras, qual é a deste blog?'

Já disse que posto por postar: o tema é puramente a vontade de dizer. O que não disse é por qual motivo eu sigo postando, sempre que possível.

Uma vez que eu aceitei fazer parte desse blog com amigos que fazem parte da minha vida, falando sobre temas que só cabe a minha vontade escolher, e fazendo isso tudo deliberadamente, esse blog passou obrigatoriamente a ser um ponto de parada, sempre que possível. Não consigo diferenciar as conversas tão boas dos fins de semana com os posts aqui publicados, e sobre isso não existe qualquer outro ponto de vista possível.

Explico melhor: Não vejo o blog como um blog. Vejo o blog como um mural compartilhado, onde idéias e posts aparentemente desconexos recriam artificialmente a magia das velhas conversas regadas à coca-cola, dos planos e sonhos concretizados apenas em pensamento, e dos desabafos, frutos do tédio, mais comum em outros tempos.

Explico ainda melhor: só posto por saber que outros posts virão após o meu.

Este blog, por sua própria natureza, não pode ser construído sozinho. E por sozinho não me refiro somente aos posts, mas à presença. Se a falta de tempo se tornou um empecilho tão cedo, isso muito me assusta.

Senhores, se as idéias aqui apresentadas não condizem com as suas próprias idéias, me permitam uma elegante saída à francesa, para enfim este blog estar em harmonia com os seus autores.

Pra terminar uso também esse post como forma de agradecer aos comentários, pois se para postar eu não preciso de nenhum incentivo, pra postar algo melhor da próxima vez os comentários são essenciais.


Líber

domingo, 3 de agosto de 2008

O matagal...

Ah, o cheiro daquele matagal... Não havendo necessidade pra exagero, falo com toda a franqueza: Era surreal! Nenhum aroma tão perfeito pode existir assim, impunemente.

Estou atravessando as idéias, confesso, mas é a pressa de postar, embora seja madrugada de um domingo chuvoso.

Esse matagal, que talvez hoje já não seja mais matagal, era um como tantos, lá dos idos da minha juventude.

Era um terreno baldio, palco das estórias mais emocionantes do bairro, alvo constante de pequenos tiranos entediados que se entrelaçavam como só quem tem tamanho pra isso poderia fazer, nos seus altos - e cortantes - ramos de capim novo.

Na proteção visual oferecida, toda sorte de brincadeiras e travessuras encontravam terra fértil pra germinar, e quando se é criança, uma vez havendo a possibilidade de se fazer o que não se deve fazer, automaticamente inexiste a possibilidade de não se fazer o que não deveria ter sido feito. Assim, fácil. Pecado era dizer não.

Desde pequenos, entretanto, prevalecia a consciência. Tardiamente, claro, mas toda besteira vinha acompanhada de uma reflexão sobre a vida, tal qual ela nos era gradualmente desvendada. O problema era restringir o alcance quase divinal das maquinações infantis, em pleno velho oeste, naquela terra sem lei, antes do estrago já ter sido feito.

Alguém aí se lembra daquele filme em que 4 garotos fogem de casa à procura de um corpo, seguindo a trilha de um trem e conversando sobre o futuro acompanhados pela maravilhosa trilha de 'Stand By Me'? Um dos meus preferidos dentre os clássicos da 'Sessão da Tarde'. A amizade, a inocência, a... nostalgia. Enlatada tão perfeitamente como só os USA podem fazer, lá está ela na sua mais bela forma, pelo menos na sétima arte.

Que me perdoem os que preferem posts mais racionais, mas numa noite como essa não se render à nostalgia beira a insensibilidade. Afinal, nem sempre olhar pra trás é sinônimo de não querer ver o que está aí, no agora. Mergulhar no passado muitas vezes ultrapassa a nostalgia: é um brinde ao imcompreensível. Entretanto, para não piorar ainda mais a situação desse post, que esbanja sentimento e carece de sentido, não pretendo me extender mais do que já fiz.

Deixarei agora que o sono me leve, dessa vez pra mais longe ainda do que a minha memória poderia chegar, absorvendo-me mais uma vez no aroma sempre fresco e verde do meu passado. Sim... eu usei verde como adjetivo mesmo. Por que se a cor verde tivesse um cheiro, com certeza seria o daquele matagal.


Líber

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Matemática e Lógica

"A matemática parece ser uma faculdade da mente humana destinada a suplementar a brevidade da vida e a imperfeição dos sentidos."


Nos meus tempos de colegial, aprendíamos Filosofia e, conseqüentemente, lógica, um de seus capítulos. Não sei se isso ainda é assim, pois o Armand Cuvillier falava até de Psicologia em seu manual, ciência que acabou se tornando autônoma, veja o tempo que isso faz. Aliás, nem sei se ainda existe curso colegial, pois nossas reformas educacionais geralmente têm como primeira preocupação mudar o nome de algo. Depois, se der, muda-se o conteúdo.
Pois nosso professor Hugo Recchimuzzi falava a respeito do silogismo, mostrando sua importância para raciocinarmos adequadamente. Há nele uma afirmação genérica, também chamada "premissa maior", depois vem uma afirmação específica, dita "premissa menor", e a conclusão inabalável. O exemplo clássico era este, acho que ainda é, se é que hoje, com tanto pragmatismo à solta, se perde tempo com essas coisas : a) todo homem é mortal; b) eu sou homem; c) logo, um dia eu morrerei.
Havia em nossa classe uma garota que tinha sido candidata a miss qualquer coisa e, por causa disso, era só pose, o que, naqueles tempos idos e vividos, se chamava "entojo". Ela era um entojo, segundo diziam suas colegas. Isso ainda se chama assim ? Os rapazes, compreensivelmente, dispensavam à tal loira aguada todas as atenções que ela imerecia, a meu abalizado entender. Ainda que eu admirasse a Marilyn Monroe, minha pin-up girl, como então se dizia, pois afixávamos a fotografia de nossa atriz predileta no alto da parede do quarto com um alfinete de cabeça que, em inglês, era, e acho que ainda é, chamado pin, imitando os soldados norte-americanos que se divertiam na Coréia, minha paixão era a magérrima Audrey Hepburn, um autêntico caniço, pela qual eu havia sucumbido vendo A Princesa e o Plebeu (Roman Holiday), sendo o plebeu ninguém menos do que o Gregory Peck, cuja classe eu procurava imitar, enquanto não aparecesse um James Dean em meu caminho, com aquele irresistível modo de mastigar marlonbrandamente as palavras, no papel de um moderno Caim, que acaba mandando seu irmão para a guerra, a leste do Éden. Nada, portanto, de admirar que a tal colega não me excitasse minimamente.
Pois ela se aproveitou da aula do professor Recchimuzzi para vir à forra, mandando-me um bilhetinho : a) todo homem gosta de mulher; b) fulano não gosta de mim; c) logo... Ela era boa aluna, sem dúvida alguma.
Parti para a ignorância, como então se dizia, devolvendo o bilhete com um adendo : eu não tenho amostra grátis mas faço demonstração sem compromisso. Ela nunca me pediu que lhe demonstrasse alguma coisa ou lhe mostrasse o teorema de Pitágoras que eu trazia no bolso da calça.
Já professor, eu tentava mostrar a meus alunos a importância da lógica e do silogismo, fossem eles ser advogados, promotores ou juízes, até porque delegado não precisa dessas filigranas, brincava eu. Dava-lhes este exemplo : a) todo gato tem bigodes; b) Tiago tem bigodes; c) logo, Tiago é meu tio. Epa ! Onde a coisa desandou?
Agora não estamos diante de um silogismo, mas diante de um sofisma, que é um falso silogismo, mostrava eu, muito útil aos advogados, provocava. E onde está a falsidade ? Na premissa maior. Eu não disse que todos os gatos "e só os gatos" têm bigodes. Logo, o fato de os gatos terem bigodes não significa que os cães e as focas também não os tenham. Logo, aí estão os bigodes do meu tio para complicar a coisa, mesmo não sendo ele gato, nem cão, nem foca.
Os matemáticos, como meu dileto Luis França, gabam-se da precisão do raciocínio matemático. Por exemplo : se 1=5, 2=10, 3=15, 4=20 qual será a resposta para isto : 5=? Resposta ao pé da página.
Os lógicos, porém, se esquecem, da problemática corrida entre o coelho e a tartaruga. Sendo mais rápido, o coelho permitiu que a tartaruga chegasse à metade do percurso, que era de 100 metros, para só então começar a correr. Na prática, o coelho vence a corrida de lavada. Matematicamente, porém, não. É que, como a tartaruga está em movimento contínuo, quando o coelho chega aos 50m, ela já estará nos 50,10m; quando ele chega aos 50,10m, a tartaruga estará nos 50,11m. E assim sucessivamente. Para explicar o fenômeno, eles afirmam, com o apadrinhamento do Einstein, que, a certa altura, a tartaruga estará "relativamente" imóvel, ocasião em que ela será ultrapassada pelo coelho.
Aliás, isso ocorre até mesmo em corridas de automóvel, onde as tartarugas são os retardatários. Se todos os carros estão em movimento, como é possível que o líder seja ultrapassado sem ter ido parar na caixa de brita ? Cartas para o Barrichello.
E nas estações ferroviárias ? Se você está dentro de um vagão de trem parado e a seu lado está outro trem parado, quando um deles começa a movimentar-se, você não sabe se é o seu ou se é o outro trem que se está movimentando. Se, no entanto, os dois trens se movimentarem ao mesmo tempo, na mesma direção, com mesma velocidade, você imaginará que ambos continuam parados. Se você, aproveitando essa falsa situação de equivalência, tentar pular deste trem para aquele, certamente não terá outra oportunidade de fazer essa tentativa.
E temos a situação inversa : um operário leva 6 horas para cavar um poço que tem 6m de profundidade por 1m de diâmetro. Pergunta-se : quanto tempo levarão 6 operários para cavar um poço de mesma dimensão, trabalhando ao mesmo tempo ? Meu amigo Luis certamente responderá : 1 hora. Matematicamente a resposta está corretíssima, mas ponha seis operários cavando um poço desses ao mesmo tempo e veja o que acontece. Agora é a prática que desmente a teoria.
Imagine que você tenha um monte de grãos de café e tenha de contá-los um a um. Se você levar um segundo para separar cada grão, quando você chegar ao milionésimo grão se terão passado doze dias. E se houver 1 bilhão de grãos para contar ? Segundo os cálculos do Carl Sagan, você levaria 32 anos para isso. Sem comer, sem beber e sem dormir. Quem se habilita a demonstrar que ele está errado ?
A Dalila brinda-me com um problema capcioso, cujo deslinde deixo para os leitores : três amigos querem passar a noite num hotel, que cobra US$ 300.00 o pernoite. Cada um entrega US$ 100.00 ao encarregado da portaria e segue para o quarto. Ocorre que o encarregado descobre que se enganara, pois o pernoite no quarto escolhido é de US$ 250.00, motivo pelo qual entrega a seu auxiliar cinco notas de US$ 10.00, mandando-o devolver os US$ 50.00 aos hóspedes. Como o garoto não sabe dividir 50 por 3, ele age pragmaticamente : entrega uma nota de US$ 10.00 a cada um dos três hóspedes, embolsando os US$ 20.00 restantes. Assim, cada hóspede, que havia desembolsado US$ 100.00, acabou desembolsando, na prática, US$ 90.00. Os três amigos gastaram, portanto, no total, US$ 270.00. Somando-se a isso os US$ 20.00 embolsados pelo garoto, temos US$ 290.00. Cadê os US$ 10.00 restantes, Luis ?
Quanto à pergunta lá de cima, se 1=5, logicamente 5=1.

Despeço-me, pois como sempre digo, o tempo ruge.

Até breve.

Dr. Duralexsedlex

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Porque pragmatismo de ** é ****...

"É, acho que é uma boa idéia. Talvez funcione."

Não dizem que escrever é fazer alguma coisa que valha a pena ser lida, e viver, alguma coisa que valha a pena ser escrita? Se escrever qualquer coisa é vago, o que é profundo quando qualquer idéia é subjetiva?

Chego à conclusão que talvez o melhor mesmo seja começar pelo fim. Se terminar com uma conclusão é reiterar o que já foi dito previamente, talvez eu consiga fazer o caminho contrário e, me baseando no desfecho, destrinchar essa idéia que de tão resumida parece palpável, distribuindo-a até o começo do post.

Mas não consigo deixar de pensar que o meio é importante. Se não for interessante a pessoa não vai ler até o desfecho, e nunca vai entender o que o texto quis dizer.

A mangueira balançando lá fora, o canto dos pássaros num tedioso dia de sol: qualquer coisa serviria se eu já estivesse no meio.

O meio do texto não é nada mais que a condução para o desfecho. Não importa realmente o que se diz no meio, desde que ele seja ligação entre o início e o fim.

Acendo um cigarro e olho pela janela.

Por que manter o tema sempre coeso é fácil, desde que se tenha uma boa idéia logo no começo. E depois que as primeiras linhas saem tudo fica mais simples.

Muitas vezes um texto gigante é definido apenas pelo título: é aonde o texto vem se alimentar de tempos em tempos pra chegar ao fim com coesão.

Comecei a digitar as primeiras linhas... Elas são importantíssimas para determinar a direção que as idéias subseqüentes irão tomar, assim definindo o conteúdo do post inteiro.

Sentei em frente ao computador: dali a pouco teria de postar se eu não quisesse quebrar esse fluxo tão difícil de posts diários.


P.S.: Curiosamente esse post é mais interessante quando lido ao contrário... mas isso não quer dizer que ele ficará interessante por causa disso.


Líber

terça-feira, 29 de julho de 2008

Epístola Cibernética

Meus prezados amigos.

Hoje venci a preguiça e tomei da pena para escrever-te, tal como se fazia outrora, quando as facilidades da Internet não nos sonegavam esse prazer epistolar. Nestas mal traçadas linhas mostro-me algo saudosista, reflexo talvez do veículo escolhido para esta breve prestação de contas, démodé a mais não poder, como diria teu pai. Espero que mais uma vez me compreendas e me releves este anacronismo, até porque tenho notórias dificuldades em adaptar-me a esses novos tempos.
Quando nos conhecemos, já lá vai um par de anos, eu deixei claro os meus propósitos. Se não te lembras, refresco-te a memória.
Depois disso, fui passar um tempo fora do país, não sei se te lembras, e entendi que a liberdade poética me autorizaria a inventar pretextos, como certamente faria o Machado. Sabias disso ? É claro que não havia ali congresso algum. Inventei-o para impressionar os amigos. Antes o fazíamos enviando cartões postais, com a mensagem implícita : "Eu aqui gozando a vida e você aí a estafar-se". Agora valemo-nos dos recursos da Internet. É o progresso, como dizem os mais jovens.
O fato é que a distância nos faz dar valor a pessoas às quais os afazeres diários nem sempre nos permitem expressar o nosso amor. Tomei então emprestado ao Vinicius umas reflexões e dei-lhes um colorido pessoal. Como me saí ?
Aproveitei o isolamento escandinavo para umas considerações sobre o sentido da vida, o que sempre vai bem, especialmente nestes dias de tumulto globalizado. Não sei se te mostrei.
Um tanto blasé, talvez, mas sempre há os amigos para incentivar-nos. Como sempre eu digo, tendo amigos não precisamos ter qualidades; para os inimigos, de que adianta tê-las ? Generoso o homem, não?
Para encerrar, quero matar-te de inveja. Sou, como tu, fã incondicional do Fernando "várias" Pessoas, que até já homenageei num poema que não me lembro de te haver mostrado.
Pois saiba que em Portugal comemoraram-se os 120 anos de nascimento do gajo em grande estilo. Até fado feito de um poema dele nos apresentaram ! Pode ? E a voz e interpretação da Mariza nada devem à eterna Amália Rodrigues, pá . Sabendo como sou chorão, não preciso dizer-te quão emocionante aquilo me foi. Quem me mostrou foi a poetisa Inês Ramos, que precisas de conhecer.
Despeço-me, que o tempo ruge, como sempre dizes.
Até breve.

Dr. Duralexsedlex

segunda-feira, 28 de julho de 2008

o DEUS do Orkut....

SORTE DE HOJE : PROMETA SOMENTE O QUE PODERÁ CUMPRIR
Diga aí, haja sorte em! Ganha na mega fica longe, até fácil, igual acertar a bendita argolinha no cachorrinho com uma distintiva nota de cem aos seus pés! Mas vai ter sorte assim na casa do caralho né!.... bom mas deixando a sorte pra quem a tenha.....
VEEEEEEEEEEIIIIIIIIIIIIIIOOOOOOOOOOOOOO!!! Como assim prometa o que só poderá cumprir? Aí não tem mais o porquê prometer alguma coisa......... e fazendo isso deixará de existir a palavra prometer! Aí faço o que com ela? Prometo uma nova função em nosso idioma?

Tente compreender tal indignação!

“Meus caros eleitores...........”
Iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

“Amor você promete que nunca vai me trair?”

Hummmm ........... Peguei pesado né? ............ mas não se preocupe, o DEUS do Orkut me disse que isso é sorte! =D

Sorte ao acaso, estou a vendo neste momento como uma revolução inimaginável e até favorável!
Simm, imagine uma sociedade realmente alternativa!!! “VIVAAAA RAULLLL” ....... um país sem políticos é um país sem governo! E para os homens a benção então nem imaginada! Basta trocar o palavra casar por transar!
“você quer transar comigo?” sim, pois casamento sem promessa e a mesma coisa que casamento com sexo!........... não existem! E para as mulheres vejam com bons olhos! A cada dia vai ser uma cueca diferente para se lavar!.............=X , brincaderinhaaa!!!! Mas pensam bem, vocês não serão mais trocadas por uma partidinha de futebol, tirando que sem a existência do casamento vocês não terão mais a pressão familiar desde jovem por um casamento bem sucedido! (que não existe, mas fica aqui em off)
Obvio que a promessa não só restringe as esse pequenos 2 fatos e eu diria a quase tudo, pois em tudo existem promessas, inclusive no sexo! Mas com o fim do casamento tudo se ajeita =P......... juro que sonho em casar! Mas assim que eu ganhar minha primeira milha! =)

E aproveito este momento para que voces me ajudem casar!...........
Vocês do estado de São Paulo! Na próxima eleição, Votem em mim
Deputado Estadual 66666 onde a meia verdade prevalece!


osteowaldemirlanes!

sexta-feira, 25 de julho de 2008

É tempo de cronometrar...

"Essa hora da tarde é puro tédio, né?"

O tempo passa, fato indubitável... mas como você sabe?

"Como, agora? Está cedo ainda."

Aprendemos a conviver com a idéia de que o tempo passa, escorre, vaza por entre os dedos.

"Olha lá, já é quase madrugada"

Mas se alguém perguntar quanto tempo faz que você viu o tempo passar pela última vez, é provável que a resposta seja um 'como assim?'.

Mas... e se o tempo não existir mesmo? Sabemos que medidas de duração existem, portanto nem olhe pro relógio. Um dia é dividido em 24 horas, mas podia ser em doze. Podia ser em duas.

A questão que eu proponho é fundamentalmente simples: Em algum momento da sua vida você viveu em outro momento que não esse exato momento em que você está agora?

Você pode até responder: "Você ficou louco? O momento que eu vivi ontem é passado, foi outro."

Mas você não viveu ontem de fato, apenas lembra ter vivido.

Talvez seja difícil explicar uma sensação, por que não passa de uma sensação... Mas você nunca parou pra pensar que só existe um agora infinito?

Você pode contar por um minuto, isso não é uma sensação. O sol nasce e se põe, as estações mudam, as pessoas nascem, crescem e morrem.

Isso tudo acontece, mas pela própria natureza das coisas. Você pode contar e até prever acontecimentos que se repetem, assim o mundo se organiza. Mas o que o tempo tem a ver com isso?

Tentarei explicar melhor:

A terra gira. Pelo fato da terra girar o sol nasce e se põe. Assim pode-se dividir o dia em partes.

Perguntar por que a terra gira seria a mesma coisa que perguntar por que o céu é azul. Você pode ter mil respostas diferentes, e ainda assim elas não significarão nada. Certas coisas não são pra serem respondidas. Mas você já viveu em outra parte senão a parte que você viveu no momento em que a parte ocorreu?

Aqui vai minha tese: não existe tempo, apenas medidas de duração.

O passado não existe. É apenas a sua memória, se o homem não tivesse uma estaríamos pendurados em cipós até hoje.

Futuro? Mesma coisa. Você não caminha em direção ao futuro, tampouco ele volta atrás pra chegar até você, no presente. É apenas a sua imaginação de como o presente poderia ser, em outras circunstâncias.

Evidentemente na sua imaginação ele pode estar a uma determinada distância temporal variável até que chegue em você reversamente numa decorrência cronológica direta.

Espero que você perdoe a minha falta de talento ao expor idéias abstratas: quando você pensa no futuro ele não está lá na frente. Ele é o agora, sob as circunstâncias da sua imaginação.

Bom, aqui encerro a tese. Não sei se fui claro ao explicá-la, mas esse é um pensamento complexo e explicar leva muito tempo.

Mas se você refletir durante um tempinho verá o óbvio: um eterno, infinito agora.

E enquanto a sintaxe não nos permite enxergar essa verdade, vamos vivendo e nos preparando pra viver determinado momento, como se fosse possível o contrário.

E se será como foi imaginado, só mesmo fazendo exatamente a mesma coisa que foi imaginada, na única hora possível para faze-la.

O futuro está nas suas mãos.


Líber

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Quem inventou o amor?Me explica por favor...

Se vocês estão pensando que encontrarão um post romantico, amoroso e coisas similaress, podem esquecerrrr...
Estou aqui pedindo para que o ser sem coração que inventou o amor se apresentee para que eu possa dizer umas verdades pra elee!
Primeiramente se esse ser tivesse um pingo de sentimento pelas pessoas ele daria um curso basico de como lidar com essa jossa, ou no minimo um manual do usuárioo...Maiss nãoo só pq ele n tem coraçãoo ele deixa a gente se ferraa!!Valeuuuu..

Convenhamoss se o amor fosse assim tão bomm, tava todo mundo felizzz se amandoo como nas novelas, nos filmes...Mais sinto dizerr que a realidade não é bem assimm,não vivemos num conto de fadas q sempre tem os felizes para sempre, mais facill acreditar nos infelizes para sempree que são mais conhecidos por casados então não vamos aprofunda nesse assuntoo...Enfimm o mais comum no amor é vc ter aquela famosa ironiaa, se vc gosta a pessoa n gosta, se vc n gosta a pessoa gosta...Dai vivemos nesse ciclo sem fimm e simm sozinhoss!

Até pensei em uma táticaaa, já que quem vc gosta na maioria das vezes n gosta de vc, finge q n gostaa...E isso vale tambem pra outra situação, quem sabe não da certoo nééé?!Então vamos fundar um movimento do contraa e acabaa com esse ser maligno que inventou esse tal de amor!

E pra vc que amaa e é amado parabénss e ignore o q eu disse(não vale a mãe ok?)
E pra vc que amaa e não é amado bem vindo ao clube, sinta-se a vontadee, estará entre amigos!

Um abraço a todos

Turambar

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Brainstop!

"Aqui, onde você que tem cérebro vai parar!?.." Não, já sei: "Aqui, onde seu cérebro vai parar!!.. " Não, não, espera um pouco... "Aqui, onde você vai parar de ter cérebro!?" Hm... não, assim:

Como tudo que começa um dia acaba, tudo que acaba um dia começou, e por começar, subentende-se aquilo que será por fim, e haverá de ser, só o resto do que foi o começo, e por começo nada mais que o lugar de onde o fim saiu.

Sendo o que é, etimologicamente, o começo, confesso que falha minha mensagem por não ser de onde veio a sintaxe, ou ao menos ser capaz de vir de onde a sintaxe veio. Mas independentemente do que o começo quer começar, a verdadeira dúvida é que o que começa começa, se começa, não continuando algo que já existia em outro lugar, talvez em outro nível de desprendimento e de comunicação, regado a extrato de noz-de-cola.

Sim, nós temos conteúdo suficiente pra jogar conteúdo fora, mas definitivamente não.

Por que o que nos importa é a simbologia do pragmatismo teoricamente aqui ritualizado, sempre que possível. É o paradoxo incomensurável e atemporal do espaço-tempo: o tempo de vir, chegar, ficar e um dia ir embora. Em outras palavras, nós somos a chuva que mastiga a sua janela em dia de tédio.

Basta olhar, mas... arrisco dizer que você vai se apaixonar, arrisco, que quando entender, digo ao menos entender, nem precisa gostar do que entender, no mínimo entender, vai haver uma paixão.

"Aqui, até um dia."


Líber

terça-feira, 22 de julho de 2008

A saga da era!

A era da saga, opa, a saga da era, como eu disse, opa, eu disse o que?
Saga? saga de quem? era? era de quando?

Só sei que não é essa inutilidade que virão nas próximas vezes!
Mas o inicio, começo, largada, saida, entrada para deve ser distinguida!

E porque não pela Saga da era?

Porque eu não sei o que significa!


osteowaldemirlanes!