domingo, 15 de fevereiro de 2009

Dissertação sobre a vida...

Companheiros e visitantes: nada me prende, senão a problemática da existência. 

Me refiro dessa maneira ao abismo que geralmente separa os pensamentos, as palavras e os atos das pessoas. Me refiro à descaracterização do indivíduo perante a sociedade. A desvalorização do íntimo perante o pré-estabelecido.

Me refiro ao fato de todas as pessoas terem sua própria visão do mundo, suas idiossincrasias e semi-óticas, provenientes das suas experiências, fruto do convívio social... no entanto isso não impede que todos ajam da mesmíssima maneira.

De onde vêm essas ordens externas? Me pergunto, pois, do alto dos meus 20 anos, enquanto fumo meu cigarro natural, muito melhor que esses outros feitos de veneno, agentes viciantes e propaganda, me passa pela cabeça: Onde foi que o homem perdeu a referência do seu próprio valor? Quando foi que ele deixou de ser ele mesmo para integrar-se à uma massa amorfa, não-pensante, mesquinha e absolutamente ingênua? Afinal, é manipulada, mas é por demais incômodo pensar nisso, ou é mais cômodo não pensar.

Então aí vem a sacada: onde o homem busca refúgio, se a sociedade não preza pela sua felicidade? Dentro de si mesmo. Ou melhor, dentro da sua concepção de mundo.

Antes de continuar vamos analisar a situação de forma bastante breve: Vivemos no liberalismo, onde cada um tem direito de fazer o que bem entender, de acreditar no que quiser, de ser quem quiser. Como forma de produção temos o capitalismo, que visa o acúmulo de capital, que por sua vez, visa o consumo.

Se traçarmos um paralelo entre um cubano e um americano, personificações das corretes ideológicas opostas, socialismo e capitalismo, veremos que ambos não estão satisfeitos: Toda pessoa que vive em cuba come. Sem mais ou menos. Todo mundo tem comida e todo mundo come só arroz e feijão. Nos Estados Unidos, uma variedade imensa de comida, produzida e importada em quantidades arrasadoras: De forma geral os Estados Unidos consomem 80% dos recursos naturais do mundo. E isso faz com que a liberdade proposta pelo liberalismo e tornada real pelo capitalismo se resuma em escolher o que consumir. É essa a liberdade que a sociedade conquistou, mesmo podendo escolher a forma de vida que quiser, a ideologia política que considerar melhor, a forma de vida que considerar adeqüada: Escolher entre as marcas A, B ou C. Consumir isso, aquilo, ou aquele outro. 

No Brasil a coisa é ainda pior: Existe tanta desigualdade, uma concentração de riquezas tão absurda no país mais rico do mundo, que o liberalismo será sempre utópico para nós. 

E tem mais: não existe desenvolvimento sustentável. O mundo não pode sustentar o nosso atual modo de vida e a China vem aí pra provar. Quando os caras resolverem tomar leite, vai faltar leite aqui. Por que eles pagam mais, e vai ser tudo exportado.

Retomando ao que me motivou a escrever esse post, o que me assusta é a conformidade em que vivemos, mesmo sendo, todos nós, vítimas, não de um sistema, mas de pessoas: Afinal, qualquer sistema é formado por pessoas, e enquanto um sujeito trabalha só pra viver, ganhando um salário mínimo que o coloca à margem de qualquer possibilidade de consumo, outro se sente superior por ganhar 10.000 reais por mês: o sujeito que está lá em cima ganha cifras inimagináveis por hora em cima deles todos, e ninguém reclama. Tá tudo certo, o mundo é assim.

Na minha opinião a classe mais manipulada é a classe média: o pobre não tem esperança de consumo, ele trabalha pra viver. O rico não precisa de motivo, o mundo está organizado de forma que ele não precise pensar, apenas consumir, afinal ele consome. A classe média não: o que move a classe média é a vontade de consumir, é o desejo de consumir, por que também não consome em comparação com o rico, mas se considera herdeira do seu modo de viver. É uma classe vendida: não busca conhecimento, valores, progresso humano. Busca o pouco consumo à que dispõem, por que é burra. Foi tornada burra.

No meio de tudo isso está o homem, o indivíduo. E o homem já não se vê assim, como um ser poderosíssimo, que mantém esse sistema: se vê como parte integrante do sistema, subjugado à vontade de algo que ele não compreende. Diz que Deus não existe, caso contrário o mundo seria outro; mas também não estende a mão pra ninguém. Não quer tornar o mundo outro. O mundo, tal qual se organizou, é responsabilidade dos outros, e a insatisfação que carrega é por culpa do mundo, tal qual está organizado. Um círculo vicioso onde a saída só encontra eco na mudança de mentalidade, na reposição do homem, de todos os homens, ao seu posto de modificador, influenciador, moldador do mundo. Posto esse que hoje pertence a quem tem poder econômico, e que pertenceu antigamente à quem tinha conhecimento.

Escrevo tudo isso para dizer o seguinte: Meu trabalho provavelmente será o de um formador de marcas. Meu trabalho será fazer você pensar que as instituições estão aí pro seu bem, quando elas na verdade estão aí pra beber o seu sangue, seu suor e suas lágrimas. Hoje temos tecnologia pra disseminar o conhecimento pelo mundo, o que faria a sociedade evoluir como nunca antes em qualquer período. Atlântida teria inveja. Mas pra onde a tecnologia está voltada? Pro consumo.

Então escrevo principalmente pra dizer que não existe mais possibilidade de revolução no mundo, a não ser no modo de pensar: Nem socialismo, nem capitalismo. Estamos no mesmo barco, e o mundo vai pra onde as pessoas remam. E as pessoas remam, estão sempre remando, comungando com um sistema que aponta na direção da selvageria. Somos todos inimigos, competidores, e a vida de cada um é o que importa.

Mas veja o erro clássico: De fato, a vida de cada um é o que importa! Cada um vê sentido na sua própria concepção de mundo, nada mais natural. Somos indivíduos únicos; queremos ser felizes e prósperos. Mas a selvageria, a competição, o desespero infindável de acumular-conhecimento-para-servir-melhor-o-sistema-para-ganhar-mais-dinheiro... bom, essas concepções foram impostas. E cabe à cada um de nós se livrar desse lixo todo, e aí, quem sabe, encontrar sentido na vida, dentro da sua própria visão. Não na dos outros.

Cabe a cada um a própria vida, portanto não se sinta mal caso você não se importe com nada do que aqui foi dito. É natural, muita gente espera que você pense exatamente assim. 

Mesmo assim, queria que você soubesse.


Líber

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